É do mar...

 por Edmar Conceição   
                                         
Escrevo este texto embalado pelo entardecer da bela crônica de Rubem Braga e pela beleza delicada das moças do mar, flagrada por Marcos Cesário. Da mesma forma que o saudoso cronista, não tenho muito o que dizer; atraco-me no cais do meu silêncio crepuscular, feito de agonia e preces, como se pudesse ser correnteza e margem ao mesmo tempo. É verdade, o mar contagia até o olhar.

Minha crônica teria a imensidão marítima se carregasse meu vislumbre neste meu exílio de final de tarde, mas me perco e me ofusco com o interlúdio cantarolado, suavemente, pela perfeição. Assim, sinto-me um navegante errante entregue à deriva, confiando minhas profecias no alumbramento do mistério do mar. Como diria a bela canção: “a nau permanece mesmo quando vai”.

Ainda embarcado pelo devir poético, ouço e sorvo Caymmi, neste momento, na minha vitrola: “O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito”... “É doce morrer no mar, nas águas verdes do mar”. A benção, moças do mar, senhoras das águas e do canto de Iemanjá, tomem conta desta singela oferenda, tomem conta deste pescador de ilusões, tomem conta por que eu também sou do mar. É o mar... é o mar...

É fácil encontrar nas minhas dramaturgias versos furtados de Bertolt Brecht: do mar “que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz o quanto são violentas as margens que o reprimem”. Talvez por isso, Vinícius de Moraes nos advertiu: “coitado do homem que cai, no canto de Ossanha traidor. Coitado com o homem que vai, atrás de mandinga de amor”. Mas agora é tarde, companheiro, diante do mar. Mesmo amordaçado pelo seu encanto, cedo às suas tentações e atiro-me nos seus braços salgados.